quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Evento Wine Bloggers | Adega José de Sousa 2014


Há muitas semanas atrás, a José Maria da Fonseca promoveu mais um dos seus tradicionais eventos com os bloggers portugueses que escrevem sobre o mundo do vinho. Desta vez rumámos ao Sul para visitar a Adega José de Sousa, em Reguengos de Monsaraz. A Casa Agrícola José de Sousa Rosado Fernandes, da qual faz parte o Monte da Ribeira, foi adquirida pela JMF em 1986 e concretizou um sonho antigo da empresa sediada em Azeitão de poder produzir vinho numa propriedade histórica e prestigiada do Alentejo, utilizando técnicas tradicionais de vinificação.
A adega José de Sousa possui uma adega tradicional, abaixo do nível do solo, equipada com 114 ânforas de barro para fermentação do vinho seguindo um método ancestral que remonta a uma tradição iniciada pelos Romanos há mais de dois milénios.





Possui ainda uma adega moderna, com 44 tanques de inox e toda a tecnologia indispensável para a vinificação de tintos e brancos.


Daqui saem habitualmente os vinhos com a marca Montado, José de Sousa, José de Sousa Mayor e o topo de gama J. Modernidade e tradição unem-se, pois, neste espaço com visita obrigatória.
O evento traduziu-se na visita às instalações, incluindo vinha, prova de vinhos e almoço. As fotos que ilustram este texto falam por si e não me alongarei na prosa. Servem para aguçar o apetite para uma visita.



Foram provados o Montado Branco e Tinto de 2013, três amostras de Trincadeira da colheita de 2012 (vinificada separadamente em inox, lagar e talhas), os Espumantes Lancers Bruto e Bruto Rosé, o José de Sousa, José de Sousa Mayor e J, todos de 2011, o Moscatel Alambre 20 Anos e ainda uma surpresa com 74 anos. O almoço, previsto para a vinha e debaixo de um chaparro que impõe respeito, por causa dos humores de S. Pedro, acabou por realizar-se entre as talhas e sob o olhar atento de um menir “trasladado” do seu poiso original na vinha para as instalações na adega.





Lancers Bruto e Lancers Bruto Rosé

Ambos acompanharam uns acepipes com vista para a adega das talhas. O branco, feito com Malvasia Fina e Arinto, apresentou-se com cor citrina aroma generoso a citrinos e frutos tropicais. A versão Rosé, com Castelão e Syrah, apresentou-se com a típica cor salmonada, revelou aromas de frutos vermelhos e alguns apontamentos florais. Ambos apresentaram bolha pequena e revelaram-se agradáveis na prova, com bom equilíbrio geral e adequados como aperitivo para consumo despreocupado. PVP de ambos a rondar os 5 €.

Trincadeira 2012 (amostras em inox, lagar e talhas)

Uma curiosidade que permitiu avaliar a expressão da casta quando vinificada em inox, lagar e potes (talhas). Vinhos ainda jovens, em construção, pelo que qualquer comentário avalizado ainda será extemporâneo. Achei a versão de inox ainda um pouco fechada, à espera que o tempo o desabroche, e a versão da talha revelou os aromas/sabores típicos que lembram terra e um pouco mais quente que a versão de inox. A versão em lagar é um vinho já mais feito, mais expressivo e equilibrado que dá prazer a beber.

Montado branco 2013

Com Alva, Tamarez e Rabo de Ovelha. Já tive oportunidade de o comentar há algum tempo atrás: aqui.

Montado tinto 2013

Com Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouschet e Syrah. Passou 4 meses em carvalho americano e francês. Média intensidade de cor, jovem, fluido e límpido. Aroma prazenteiro com primazia à fruta e muito leve baunilha. Na boca é frutado, fácil e macio, com final agradável. É vinho para consumo enquanto jovem e bom parceiro para o quotidiano. PVP a rondar os 3 €.

José de Sousa 2011

Com Grand Noir (47%), Trincadeira (33%) e Aragonês (20%). Uma pequena parte fermentou em potes de barro e o restante em cubas de inox. Passou 8 meses em carvalho novo americano e francês. Cor média-escura e aspecto límpido. Aroma de média intensidade, dominado pela fruta madura, alguma passa, fumados e especiarias. Na boca revela-se frutado, suave, equilibrado, com retronasal de barrica, terminando com persistência média e ligeiro chocolate. PVP a rondar os 7 €. Acompanhou um Gaspacho mas a relação não foi muito pacífica.

José de Sousa Mayor 2011

Com Grand Noir (58%), Trincadeira (22%) e Aragonez (20%). Uma parte foi vinificada em talha e o restante em lagar. Envelhecido em madeira nova de carvalho francês por um período de cerca de 15 meses. Apresentou-se relativamente escuro e denso. Aroma com boa intensidade, complexo, delicado e muito agradável com fruta generosa, especiarias e notas de terra. Na boca revelou-se encorpado, amplo e profundo, cremoso, e taninos a conferirem estrutura. Termina longo com notas achocolatadas. PVP normal a rondar os 20 €. Acompanhou, e bem, uma carne de porco à alentejana com migas (clássicas e com tomate).

J 2011

Com Grand Noir (60%), Touriga Franca (28%) e Touriga Nacional (12%). Parte fermentado em lagares e o restante em ânforas de barro. Estagia 14 meses em madeira nova de carvalho francês. Relativamente escuro, límpido e denso. Aroma algo contido de início, precisa de tempo de copo para se mostrar. Nesta altura, os aromas revelam frutos silvestres escuros, pimentas e alguma tosta. Na boca revela-se encorpado, sóbrio e sério, com grande estrutura e garra tânica a impor algum respeito. Termina muito longo. Vinho superior. PVP normal a rondar os 40 €. Acompanhou também a carne de porco à alentejana com migas mostrando que a harmonização se recomenda.

Alambre 20 Anos

Foi servido com a mousse de chocolate e abacaxi. O que dizer? Intenso, rico, complexo, as típicas notas de casca de laranja e melados, tudo revelando-se em harmonia como se de uma orquestra bem afinada se tratasse. Um vinho impositivo e de final muito, muito longo… PVP a rondar os 30 €.

José de Sousa Rosado Fernandes tinto 1940

A surpresa estava reservada para o fim. Foram abertas duas garrafas deste tinto com 74 anos, uma em melhor forma que a outra. Uma série de garrafas deste vinho foi encontrada num lagar, tapado por sacas de carvão… Em boa hora o foi pois permitiu-nos desfrutar de um momento único. A cor fez lembrar um tawny velho mas ainda com alguns laivos avermelhados. Aromas a condizer, com fruto seco, iodo e torrefacção. Muito bem na boca, ainda com acidez a suportar a prova, vivo, rico e intenso. Grande prazer que deu beber e uma harmonização perfeita com a sobremesa de chocolate. Velhos são os trapos…

No fim, resta-me agradecer mais uma vez à Sofia e ao Domingos a amabilidade que tiveram em convidar-me para participar nesta grande e aprazível jornada bem como realçar a simpatia de todos quanto acompanharam e participaram na visita.





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