Há muitas semanas atrás, a José Maria
da Fonseca promoveu mais um dos seus tradicionais eventos com os bloggers
portugueses que escrevem sobre o mundo do vinho. Desta vez rumámos ao Sul para visitar a Adega
José de Sousa, em Reguengos de Monsaraz. A Casa Agrícola José de Sousa Rosado
Fernandes, da qual faz parte o Monte da Ribeira, foi adquirida pela JMF em 1986
e concretizou um sonho antigo da empresa sediada em Azeitão de poder produzir
vinho numa propriedade histórica e prestigiada do Alentejo, utilizando técnicas
tradicionais de vinificação.
A adega José de Sousa possui uma adega
tradicional, abaixo do nível do solo, equipada com 114 ânforas de barro para
fermentação do vinho seguindo um método ancestral que remonta a uma tradição
iniciada pelos Romanos há mais de dois milénios.
Possui ainda uma adega
moderna, com 44 tanques de inox e toda a tecnologia indispensável para a
vinificação de tintos e brancos.
Daqui saem habitualmente os vinhos com a marca
Montado, José de Sousa, José de Sousa Mayor e o topo de gama J. Modernidade e
tradição unem-se, pois, neste espaço com visita obrigatória.
O
evento traduziu-se na visita às instalações, incluindo vinha, prova de vinhos e
almoço. As fotos que ilustram este texto falam por si e não me alongarei na
prosa. Servem para aguçar o apetite para uma visita.
Foram
provados o Montado Branco e Tinto de 2013, três amostras de Trincadeira da
colheita de 2012 (vinificada separadamente em inox, lagar e talhas), os Espumantes
Lancers Bruto e Bruto Rosé, o José de Sousa, José de Sousa Mayor e J, todos de 2011,
o Moscatel Alambre 20 Anos e ainda uma surpresa com 74 anos. O almoço, previsto
para a vinha e debaixo de um chaparro que impõe respeito, por causa dos humores
de S. Pedro, acabou por realizar-se entre as talhas e sob o olhar atento de um
menir “trasladado” do seu poiso original na vinha para as instalações na adega.
Lancers Bruto e
Lancers Bruto Rosé
Ambos
acompanharam uns acepipes com vista para a adega das talhas. O branco, feito
com Malvasia Fina e Arinto, apresentou-se com cor citrina aroma generoso a
citrinos e frutos tropicais. A versão Rosé, com Castelão e Syrah, apresentou-se
com a típica cor salmonada, revelou aromas de frutos vermelhos e alguns
apontamentos florais. Ambos apresentaram bolha pequena e revelaram-se
agradáveis na prova, com bom equilíbrio geral e adequados como aperitivo para consumo
despreocupado. PVP de ambos a rondar os 5 €.
Trincadeira 2012 (amostras
em inox, lagar e talhas)
Uma
curiosidade que permitiu avaliar a expressão da casta quando
vinificada em inox, lagar e potes (talhas). Vinhos ainda jovens, em construção,
pelo que qualquer comentário avalizado ainda será extemporâneo. Achei a versão
de inox ainda um pouco fechada, à espera que o tempo o desabroche, e a versão
da talha revelou os aromas/sabores típicos que lembram terra e um pouco mais
quente que a versão de inox. A versão em lagar é um vinho já mais feito, mais
expressivo e equilibrado que dá prazer a beber.
Montado branco 2013
Com
Alva, Tamarez e Rabo de Ovelha. Já tive oportunidade de o comentar há algum
tempo atrás: aqui.
Montado tinto 2013
Com
Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouschet e Syrah. Passou 4 meses em carvalho americano
e francês. Média intensidade de cor, jovem, fluido e límpido. Aroma prazenteiro
com primazia à fruta e muito leve baunilha. Na boca é frutado, fácil e macio, com
final agradável. É vinho para consumo enquanto jovem e bom parceiro para o quotidiano.
PVP a rondar os 3 €.
José de Sousa 2011
Com Grand Noir (47%), Trincadeira (33%) e Aragonês
(20%). Uma pequena parte fermentou em potes de barro e o restante em cubas de
inox. Passou 8 meses em carvalho novo americano e francês. Cor média-escura e
aspecto límpido. Aroma de média intensidade, dominado pela fruta madura, alguma
passa, fumados e especiarias. Na boca revela-se frutado, suave, equilibrado,
com retronasal de barrica, terminando com persistência média e ligeiro
chocolate. PVP a rondar os 7 €. Acompanhou um Gaspacho mas a relação não foi
muito pacífica.
José de Sousa Mayor
2011
Com Grand Noir (58%), Trincadeira (22%) e Aragonez
(20%). Uma parte foi vinificada em talha e o restante em lagar. Envelhecido em madeira
nova de carvalho francês por um período de cerca de 15 meses. Apresentou-se
relativamente escuro e denso. Aroma com boa intensidade, complexo, delicado e
muito agradável com fruta generosa, especiarias e notas de terra. Na boca
revelou-se encorpado, amplo e profundo, cremoso, e taninos a conferirem
estrutura. Termina longo com notas achocolatadas. PVP normal a rondar os 20 €. Acompanhou,
e bem, uma carne de porco à alentejana com migas (clássicas e com tomate).
J 2011
Com Grand Noir (60%), Touriga Franca (28%) e Touriga
Nacional (12%). Parte fermentado em lagares e o restante em ânforas de barro. Estagia
14 meses em madeira nova de carvalho francês. Relativamente escuro, límpido e
denso. Aroma algo contido de início, precisa de tempo de copo para se mostrar.
Nesta altura, os aromas revelam frutos silvestres escuros, pimentas e alguma
tosta. Na boca revela-se encorpado, sóbrio e sério, com grande estrutura e
garra tânica a impor algum respeito. Termina muito longo. Vinho superior. PVP
normal a rondar os 40 €. Acompanhou também a carne de porco à alentejana com
migas mostrando que a harmonização se recomenda.
Alambre 20 Anos
Foi
servido com a mousse de chocolate e abacaxi. O que dizer? Intenso, rico,
complexo, as típicas notas de casca de laranja e melados, tudo revelando-se em
harmonia como se de uma orquestra bem afinada se tratasse. Um vinho impositivo
e de final muito, muito longo… PVP a rondar os 30 €.
José de Sousa
Rosado Fernandes tinto 1940
A
surpresa estava reservada para o fim. Foram abertas duas garrafas deste tinto
com 74 anos, uma em melhor forma que a outra. Uma série de garrafas deste vinho
foi encontrada num lagar, tapado por sacas de carvão… Em boa hora o foi pois
permitiu-nos desfrutar de um momento único. A cor fez lembrar um tawny velho
mas ainda com alguns laivos avermelhados. Aromas a condizer, com fruto seco,
iodo e torrefacção. Muito bem na boca, ainda com acidez a suportar a prova,
vivo, rico e intenso. Grande prazer que deu beber e uma harmonização perfeita
com a sobremesa de chocolate. Velhos são os trapos…
No
fim, resta-me agradecer mais uma vez à Sofia e ao Domingos a amabilidade que
tiveram em convidar-me para participar nesta grande e aprazível jornada bem
como realçar a simpatia de todos quanto acompanharam e participaram na visita.
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