Certo dia de Novembro de 2014 reuniram-se dez comensais para um almoço acompanhado
de uma prova cega de sete vinhos (quatro tintos e três brancos) de várias
regiões do país. Apenas o anfitrião (que escreve estas linhas) conhecia os
vinhos em prova mas o modus operandi
foi feito de modo a minimizar o conhecimento a que vinho correspondia cada
garrafa. Pretendeu-se avaliar de uma forma despretensiosa três vinhos brancos,
todos Alvarinho da região do Vinho Verde, dois da colheita de 2012
e um de 2010. Os eleitos foram o Soalheiro
2012, Soalheiro Primeiras Vinhas
2010 e Portal do Fidalgo 2012.
Quanto aos tintos, foram quatro: um vinho mais jovem (2012), outro menos jovem
(2001) e dois com idade intermédia (2008). Os eleitos foram o GT 2012 (Lisboa), Vértice 2008
(Douro), Cartuxa Reserva 2008
(Alentejo) e Império Reserva 2001
(Bairrada). Todos os vinhos foram provados ao longo do almoço e o objectivo
foi cada um preencher a ficha de prova de cada amostra, tentar ordenar os
vinhos pela sua idade e, tarefa mais difícil, dissertar sobre a região de
origem.
O painel, paritário em termos de sexos, era heterogéneo. Havia aqueles que
estão um pouco mais atentos às questões do vinho, outros que começam a dar os
primeiros passos na atenção que os vinhos merecem, passando por aqueles que se
limitam ao “Gosto” e “Não Gosto”, e terminando naqueles que usam o vinho para
sangria e que gostam de um frisante bem fresquinho… Portanto, painel mais
democrático era difícil. A parte feminina do painel teve mais dificuldade em
conseguir acompanhar o preenchimento da ficha pelo que a sua opinião se resumiu
a uma avaliação mais geral (noto que foram feitas imensas críticas à ficha de prova dada a sua complexidade - não tinha o quadradinho para colocar a cruz no "Gosto", "Não Gosto", e "Não Sei, não respondo"- e a maior parte do painel feminino ficou-se pelos brancos...).
As garrafas estavam mais tapadas que as afegãs com as suas burcas pelo que
a prova foi bem mais cega que a nossa justiça. Os brancos (B1 a B3)
acompanharam entradas frescas de camarão, queijos e um enchido de porco preto.
Os tintos (T1 a T4) acompanharam uma feijoada.
No final ainda houve lugar a uma prova às claras de um Vintage (Quarles
Harris 2003) que acompanhou queijo, pavlova com frutos vermelhos e mousse de
chocolate preto.
Quanto aos vinhos provados em prova cega, fica agora uma breve descrição
das sensações provocadas por cada um deles e a ordenação final obtida de
acordo com a opinião dos presentes. A minha avaliação pessoal será descrita em
mensagens posteriores, brevemente neste espaço. Sem ter a preocupação de
elaborar uma nota de prova, os descritores que foram mais usados para descrever
cada vinho foram os que se indicam a seguir, por ordem de entrada em cena.
Os Brancos Revelados…
Soalheiro 2012
Visão: amarelo citrino, cristalino, fluido
Nariz: Agradável, intensidade média, complexo, prazeroso
Boca: Fresco, corpo mediano, macio, cremoso, dominância da acidez,
harmonioso, persistência média/longa
Soalheiro Primeiras Vinhas 2010
Visão: amarelo palha, cristalino, fluido
Nariz: Agradável, intensidade média/forte, complexo, prazeroso
Boca: Fresco, corpo mediano/encorpado, macio, cremoso, dominância da
acidez, harmonioso, persistência média/longa
Portal do Fidalgo 2012
Visão: amarelo pálido/citrino, límpido/turvo, denso
Nariz: Agradável, intensidade forte, simples/complexo, rústico/prazeroso
Boca: Fresco, corpo mediano, macio/áspero, seco/cremoso, dominância da
acidez, harmonioso/correcto, persistência média
O vencedor da prova foi o Soalheiro 2012, logo seguido pelo Portal do
Fidalgo e, surpreendentemente, o Primeiras Vinhas foi o menos apreciado. É
interessante notar que a ordenação se altera quando se tem apenas em conta a apreciação
dos membros do painel mais familiarizados com a prova de vinhos. Neste caso, o
Primeiras Vinhas sai vencedor, logo seguido pelo irmão e, finalmente, o Portal
do Fidalgo.
Os Tintos Revelados…
GT 2012
Visão: vermelho-escuro, límpido, fluido
Nariz: Agradável/Indiferente/Desagradável, intensidade forte, simples/complexo,
rústico/prazeroso/enjoativo
Boca: Quente, corpo mediano, macio/áspero, seco/cremoso, dominância da
acidez/amargor, desequilibrado/correcto/equilibrado, persistência média/longa
Vértice 2008
Visão: vermelho/vermelho-cereja, vermelho-violeta, límpido, fluido
Nariz: Agradável/sedutor, intensidade forte, complexo, prazeroso
Boca: Quente/ardente, corpo mediano/encorpado, macio/áspero, cremoso,
dominância da acidez/doçura, harmonioso, persistência longa
Cartuxa Reserva 2008
Visão: vermelho-escuro, límpido, denso
Nariz: Agradável/sedutor, intensidade forte, complexo, prazeroso
Boca: Quente/ardente, encorpado, macio, cremoso/aveludado, dominância da
acidez/amargor, harmonioso/equilibrado, persistência muito longa
Império Reserva 2001
Visão: vermelho-telha/acastanhado, límpido/turvo, denso
Nariz: Agradável/sedutor, intensidade forte/muito forte, complexo/muito
complexo, prazeroso
Boca: Fresco, encorpado, macio, cremoso/aveludado, dominância da acidez/ amargor,
harmonioso/equilibrado, persistência longa
Surpreendentemente, ou talvez não, o vencedor da prova foi o Império Reserva
2001, logo seguido pelo Cartuxa, Vértice e, finalmente, o desconcertante GT.
Mais uma vez, fazendo o exercício de considerar as opiniões dos membros do
painel mais familiarizados com o mundo vinho, a ordem obtida manteve-se. Para o
meu gosto pessoal, e por ordem decrescente de apreciação dos três melhores vinhos, se bem que todos a um nível alto: Cartuxa, Vértice e Império.
Para final de refeição lá veio o Quarles Harris Vintage 2003 (bem
interessante) a acompanhar as sobremesas e para adoçar a boca depois de tão
exigente prova.
Ficha técnica da prova (para dar um “ar profissional” à coisa)...
Tipo de vinho: Brancos e Tintos, com preços
variados e um deles (GT) verdadeiramente estratosférico
Tipo de prova: Cega
Região de origem: Várias
Ano de colheita: Vários
Copos utilizados: Schott Zwiesel
Painel de prova: Homens (5), mulheres (5),
equilibrado em género, sem necessidade de quotas
Temperatura de Serviço: Brancos (frescos; 8-10 ºC), Tintos
(menos frescos; 15-17 ºC)
Sistema de refrigeração: Cave Liebherr (vinhos envelhecidos a
12 ºC)
Número de amostras provadas: 7
Número de amostras com defeito: 0
Número de amostras com feitio: 1
Água: Pedras (das Salgadas)
O vintage Quarles Harris (2003) foi, sem dúvida, o melhor Porto que alguma vez bebi <3
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