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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Wine Meeting Novembro 2014 | Prova Cega



Certo dia de Novembro de 2014 reuniram-se dez comensais para um almoço acompanhado de uma prova cega de sete vinhos (quatro tintos e três brancos) de várias regiões do país. Apenas o anfitrião (que escreve estas linhas) conhecia os vinhos em prova mas o modus operandi foi feito de modo a minimizar o conhecimento a que vinho correspondia cada garrafa. Pretendeu-se avaliar de uma forma despretensiosa três vinhos brancos, todos Alvarinho da região do Vinho Verde, dois da colheita de 2012 e um de 2010. Os eleitos foram o Soalheiro 2012, Soalheiro Primeiras Vinhas 2010 e Portal do Fidalgo 2012. Quanto aos tintos, foram quatro: um vinho mais jovem (2012), outro menos jovem (2001) e dois com idade intermédia (2008). Os eleitos foram o GT 2012 (Lisboa), Vértice 2008 (Douro), Cartuxa Reserva 2008 (Alentejo) e Império Reserva 2001 (Bairrada). Todos os vinhos foram provados ao longo do almoço e o objectivo foi cada um preencher a ficha de prova de cada amostra, tentar ordenar os vinhos pela sua idade e, tarefa mais difícil, dissertar sobre a região de origem.
O painel, paritário em termos de sexos, era heterogéneo. Havia aqueles que estão um pouco mais atentos às questões do vinho, outros que começam a dar os primeiros passos na atenção que os vinhos merecem, passando por aqueles que se limitam ao “Gosto” e “Não Gosto”, e terminando naqueles que usam o vinho para sangria e que gostam de um frisante bem fresquinho… Portanto, painel mais democrático era difícil. A parte feminina do painel teve mais dificuldade em conseguir acompanhar o preenchimento da ficha pelo que a sua opinião se resumiu a uma avaliação mais geral (noto que foram feitas imensas críticas à ficha de prova dada a sua complexidade - não tinha o quadradinho para colocar a cruz no "Gosto", "Não Gosto", e "Não Sei, não respondo"- e a maior parte do painel feminino ficou-se pelos brancos...).
As garrafas estavam mais tapadas que as afegãs com as suas burcas pelo que a prova foi bem mais cega que a nossa justiça. Os brancos (B1 a B3) acompanharam entradas frescas de camarão, queijos e um enchido de porco preto. Os tintos (T1 a T4) acompanharam uma feijoada.




No final ainda houve lugar a uma prova às claras de um Vintage (Quarles Harris 2003) que acompanhou queijo, pavlova com frutos vermelhos e mousse de chocolate preto.





Quanto aos vinhos provados em prova cega, fica agora uma breve descrição das sensações provocadas por cada um deles e a ordenação final obtida de acordo com a opinião dos presentes. A minha avaliação pessoal será descrita em mensagens posteriores, brevemente neste espaço. Sem ter a preocupação de elaborar uma nota de prova, os descritores que foram mais usados para descrever cada vinho foram os que se indicam a seguir, por ordem de entrada em cena.

Os Brancos Revelados…




Soalheiro 2012
Visão: amarelo citrino, cristalino, fluido
Nariz: Agradável, intensidade média, complexo, prazeroso
Boca: Fresco, corpo mediano, macio, cremoso, dominância da acidez, harmonioso, persistência média/longa

Soalheiro Primeiras Vinhas 2010
Visão: amarelo palha, cristalino, fluido
Nariz: Agradável, intensidade média/forte, complexo, prazeroso
Boca: Fresco, corpo mediano/encorpado, macio, cremoso, dominância da acidez, harmonioso, persistência média/longa

Portal do Fidalgo 2012
Visão: amarelo pálido/citrino, límpido/turvo, denso
Nariz: Agradável, intensidade forte, simples/complexo, rústico/prazeroso
Boca: Fresco, corpo mediano, macio/áspero, seco/cremoso, dominância da acidez, harmonioso/correcto, persistência média

O vencedor da prova foi o Soalheiro 2012, logo seguido pelo Portal do Fidalgo e, surpreendentemente, o Primeiras Vinhas foi o menos apreciado. É interessante notar que a ordenação se altera quando se tem apenas em conta a apreciação dos membros do painel mais familiarizados com a prova de vinhos. Neste caso, o Primeiras Vinhas sai vencedor, logo seguido pelo irmão e, finalmente, o Portal do Fidalgo.


Os Tintos Revelados…




GT 2012
Visão: vermelho-escuro, límpido, fluido
Nariz: Agradável/Indiferente/Desagradável, intensidade forte, simples/complexo, rústico/prazeroso/enjoativo
Boca: Quente, corpo mediano, macio/áspero, seco/cremoso, dominância da acidez/amargor, desequilibrado/correcto/equilibrado, persistência média/longa

Vértice 2008
Visão: vermelho/vermelho-cereja, vermelho-violeta, límpido, fluido
Nariz: Agradável/sedutor, intensidade forte, complexo, prazeroso
Boca: Quente/ardente, corpo mediano/encorpado, macio/áspero, cremoso, dominância da acidez/doçura, harmonioso, persistência longa

Cartuxa Reserva 2008
Visão: vermelho-escuro, límpido, denso
Nariz: Agradável/sedutor, intensidade forte, complexo, prazeroso
Boca: Quente/ardente, encorpado, macio, cremoso/aveludado, dominância da acidez/amargor, harmonioso/equilibrado, persistência muito longa

Império Reserva 2001
Visão: vermelho-telha/acastanhado, límpido/turvo, denso
Nariz: Agradável/sedutor, intensidade forte/muito forte, complexo/muito complexo, prazeroso
Boca: Fresco, encorpado, macio, cremoso/aveludado, dominância da acidez/ amargor, harmonioso/equilibrado, persistência longa

Surpreendentemente, ou talvez não, o vencedor da prova foi o Império Reserva 2001, logo seguido pelo Cartuxa, Vértice e, finalmente, o desconcertante GT. Mais uma vez, fazendo o exercício de considerar as opiniões dos membros do painel mais familiarizados com o mundo vinho, a ordem obtida manteve-se. Para o meu gosto pessoal, e por ordem decrescente de apreciação dos três melhores vinhos, se bem que todos a um nível alto: Cartuxa, Vértice e Império.

Para final de refeição lá veio o Quarles Harris Vintage 2003 (bem interessante) a acompanhar as sobremesas e para adoçar a boca depois de tão exigente prova.

Ficha técnica da prova (para dar um “ar profissional” à coisa)...


Tipo de vinho: Brancos e Tintos, com preços variados e um deles (GT) verdadeiramente estratosférico
Tipo de prova: Cega
Região de origem: Várias
Ano de colheita: Vários
Copos utilizados: Schott Zwiesel
Painel de prova: Homens (5), mulheres (5), equilibrado em género, sem necessidade de quotas
Temperatura de Serviço: Brancos (frescos; 8-10 ºC), Tintos (menos frescos; 15-17 ºC)
Sistema de refrigeração: Cave Liebherr (vinhos envelhecidos a 12 ºC)
Número de amostras provadas: 7
Número de amostras com defeito: 0
Número de amostras com feitio: 1
Água: Pedras (das Salgadas)


A Ficha de Prova...






1 comentário:

  1. O vintage Quarles Harris (2003) foi, sem dúvida, o melhor Porto que alguma vez bebi <3

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